quinta-feira, 8 de março de 2018

VOLTAS DA VIDA



                         No dia dedicado às Mulheres vou homenagear a avó paterna dos meus filhos, já falecida. Sempre a admirei e nunca tinha escrito sobre ela. Agora resolvi fazê-lo.

VOLTAS DA VIDA
                         Dona Filhinha era uma mulher alta, magra, de pele clara, cabelos finos e grandes olhos verdes. Seu nome de batismo era Docelina e ela era doce mesmo.
                         Maltratada pela vida e pelos parcos recursos, estudou pouco e logo foi trabalhar em ateliês de moda em Porto Alegre. Ela costurava muito bem e fazia suas próprias roupas.
                        Sua comida era deliciosa e ela cuidava com esmero dos quatro filhos homens, do jeito que podia, fazendo tudo com suas próprias mãos. Comia pouquinho e trabalhava muito, sem reclamar.
                        Teve um grande companheiro na vida, um italiano forte e trabalhador, que rezava com ela, dava proteção e cuidou dela até o último momento da sua vida, inclusive nos meses que passou acamada depois de um AVC.
                        A religiosidade era a tônica da família. Pais e filhos ajoelhados rezando foi um quadro que se repetiu ao longo da vida deles. Valores preservados, respeito aos mais velhos e às instituições, com muita dificuldade financeira formaram os quatro filhos. Seu Gustavo madrugava nas filas dos bons colégios para conseguir bolsas de estudo e seus meninos poderem ter o estudo que os pais não tiveram e uma vida mais folgada. Foi muito bom ver o sorriso deles nas formaturas dos filhos e depois dos netos, sabendo o valor daquilo para aquele casalzinho que lutou tanto, sem desviar dos objetivos, nem se acomodar. Com a meta de conquistar um lugar ao sol, os meninos suportaram os sacrifícios da infância pobre, compensada pelo amor dos pais e pela certeza de que atingiriam seus objetivos na vida.
                          De saúde frágil, dona Filhinha só podia presentear os netos com os doces e biscoitos que fazia (deliciosos!), ou com as mantas que costurava, sem recursos para presentes industrializados.
                          Seu sobrenome – BOURSCHEIDT – ficou muito tempo escondido sob os outros e ela nunca imaginou que, graças a ele, hoje estaria possibilitando aos doze netos adquirirem a cidadania de Luxemburgo, de onde sua mãe veio, e que ainda pode lhes ser muito útil algum dia.
                         Foi um grande presente que receberam desta avó recatada, risonha, quietinha e que, com os cuidados adequados, teria sido uma linda mulher também por fora, já que por dentro tinha uma grande beleza de espírito.
                         Dia de saudade, de lembrar essas mulheres maravilhosas que foram surgindo em nosso caminho.
                         Dona Filhinha, fica aqui a minha homenagem para a senhora! 



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