domingo, 2 de novembro de 2014

NÃO JAZ, MAS BRILHA!



Dia de Finados. Um dia que deveria ser desnecessário, como quase todos os dias dedicados a lembrar disto ou daquilo. Quem precisa ser lembrado é porque não lembra, não sente falta, não se importa.
De pouco valem as lágrimas escassas, as flores logo murchas e as rezas apressadas por quem foi esquecido depressa demais e cujo tempo na terra não foi valorizado e apreciado como deveria.
Quem hoje optou por substituir filhos por animais domésticos e amigos pela solidão da casa arrumada e pela privacidade, hoje valorizada acima de tudo, talvez não tenha quem segure a alça do caixão, tampouco lembre de colocar uma florzinha em sua lápide.
Sempre que vou a Alegrete corro para visitar o túmulo dos meus familiares, como se eles estivessem ali esperando a minha visita.
Não gosto de cemitério, acho que ninguém gosta, no entanto, mesmo de longe, pagamos uma pessoa para manter bem limpo e ajeitado o lugar onde repousam os ossos daqueles que foram importantíssimos para nós.
Minha avó tinha um cuidado, um esmero extremo com o lugar, onde hoje ela também se encontra e eu mantenho sua tradição.
Meu pai caminhava pelas alamedas do cemitério comentando sobre os nomes, as famílias, contando causos e um dia me confidenciou que já tinha mais amigos ali do que do portão para fora.
Hoje, nas grandes cidades, as pessoas estão optando pela cremação. Acho uma forma muito radical de se eliminar os vestígios de alguém, ainda que a outra opção não melhore grande coisa. Doação de órgãos sim, me parece a maneira mais bonita de se eternizar alguém!
Leio hoje que alguém descobriu uma forma de transformar as cinzas de uma pessoa em diamante. Aí sim! Eu, que detesto fogo até depois de morta, aceitaria ir para a fornalha se pudesse, depois, virar um anel para a minha netinha. Ficaria feliz, de onde meu espírito estivesse, enfeitando o dedo de uma linda moça que um dia foi a minha companheirinha. De repente, a tal da cremação assumiu a face da transformação para mim e até gostei.
Acontece que tanto a cremação quanto a transformação das cinzas em diamante é um processo muito caro, mais uma vez ao alcance de poucos. E o jeito vai ser ficar guardada num cantinho do coração dela e nas poucas joias que lhe deixarei de herança.
Minha eternidade será preservada para as futuras gerações da família nos meus livros, onde está vertido o melhor de mim, inclusive os telefonemas que não dei e as conversas que não tive. E vou sempre preferir ser lembrada no meu aniversário, nas festas de família, nos concertos, no teatro, nos balés, nos recitais e em tudo que envolver arte.
Voltando aos diamantes e conhecendo o lado B do nosso povinho, tenho até medo dos assaltos, das quadrilhas invadindo crematórios, roubando cinzas e até esvaziando tumbas à procura de ossos para transformar em diamantes. Deus nos livre! Aí mesmo que nem morrendo estaremos livres da bandidagem!
Eu adoraria permanecer no dedo de uma netinha, dormir na caixinha de veludo do seu armário e estar presente em todos os momentos importantes para ela, dando força, coragem, parabéns. Seria muito bom!
De qualquer maneira, se existe alma e espírito, estaremos unidas de todo jeito, porque, já dizia o Pequeno Príncipe, “o essencial é invisível aos olhos e só se vê bem como coração.”






Um comentário:

Francisco Carlos D'Andrea (francari) disse...

Diamante é pedra bruta, depois de lapidado passa a ser brilhante: assim são os teus textos!